A fuga da Senhora do calfão
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Subindo a alcantilada encosta sobranceira à povoação de Távora, alcança-se, percorridos dois ou três quilómetros, um pequeno planalto. Eleva-se aí um outeirozinho debruado pelas ruínas de uma muralha. Dentro há restos de pequenas edificações, fora quatro desmanteladas paredes de uma capelinha. Outrora a padroeira da capelinha (Nossa Senhora dos Prazeres [também conhecida por Senhora do Calfão]) era anualmente festejada com uma grande romaria. Os povos de dezoito freguesias para lá se dirigiam procissionalmente com os respectivos párocos, irmandades, etc. Em volta da capela organizava-se boa feira.
As rixas e desavenças entre os povos das diferentes freguesias explodiam ali com grande violência, transformando aquele recinto em campo de batalha. Pouco a pouco, a concorrência de romeiros e feirantes foi diminuindo até que cessou de todo. Então foi construída uma pequena capela junto à povoação de Távora e para lá foi transferida a imagem de Nossa Senhora. Esta, porém, desaparecendo repetidas vezes da sua nova morada, ia aparecer na antiga.
- Milagre! - exclamava-se.
Os fundadores da nova capela, mostrando-se cépticos sobre tal preferência foram-se à antiga capela e destelharam-na. Não tendo já por onde escolher, a imagem resignou-se.
Fonte: FREITAS, Luis de - Taboaço: Notas & Lendas, Vila Nova de Famalicão, Tipografia Minerva, 1915, pp. 35-37
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